Globalização é o nome que se dá à crescente integração e interdependência entre os países, resultante principalmente dos avanços na tecnologia da informação e da comunicação.
Embora o termo Globalização seja novo, a história não é. Para muitos teve início com o comércio na África Subsaariana do período pré-colonial e com as trocas realizadas por mercadores através da Rota da Seda. Para outros, iniciou-se no século XV, com as Grandes Navegações e colonização da África, Ásia e América.
Mas graças ao avanço tecnológico, expansão das grandes corporações e à força do mercado financeiro globalizado, ocorrido nos anos 80, é que a economia adquiriu o caráter mundial e interdependente.
A Globalização é um processo contínuo, de intercâmbio de mercadorias, bens, serviços e capitais. E tem por principais características:
A grande expansão do comércio internacional. A partir da década de 70, as trocas mundiais de mercadorias e serviços atingiram o crescimento mais intenso de toda a história.
O crescimento de fluxo de capitais. As principais bolsas de valores do mundo (Nova York, Tóquio, Frankfurt e Londres) funcionam como um mercado de capitais contínuo, na qual se realizam a compra e venda de ações. Esses intercâmbios tornaram-se possível graças ao avanço da informática e das telecomunicações.
A internacionalização da produção. Hoje a produção e o consumo de mercadorias ocorrem em todo o mundo. Alguns países expandiram sua produção industrial e se converteram em grandes exportadores mundiais de artigos industrializados.
A Globalização tende a aprofundar a divisão do mundo em países ricos e pobres. É a chamada "Globalização perversa" de Milton Santos, onde os países pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Essa divisão se evidencia principalmente na concentração de tecnologia de ponta nos países mais desenvolvidos, ou no processo de patentes científicas, na qual as empresas transnacionais com sede em países ricos garantem o direito sobre as matérias-primas, produtos e bens originários de regiões mais pobres.
Vivemos em um mundo marcado por imensos contrastes. De um lado, podemos ver realidades cada vez mais homogêneas, desfrutadas por grupos restritos de pessoas - os incluídos. Os shoppings, as comidas sofisticadas, as roupas de grife, os aeroportos, os hotéis luxuosos, os automóveis, os computadores, os telefones celulares tornaram-se padronizados em qualquer parte do mundo globalizado. De outro lado, podemos perceber inúmeros problemas e mazelas atingindo milhões de pessoas, os excluídos.
No mundo Globalizado, as decisões de um governo ou empresa influentes podem provocar efeitos em regiões distantes do lugar onde foram tomadas. Assim, o emprego de um trabalhador numa indústria automobilística instalada no Brasil pode deixar de existir se a matriz da empresa -situada, por exemplo, na Alemanha - decidir que é mais conveniente fechar a fábrica aqui para instalá-la em outro país, reduzir o número de funcionários ou substituir parcela da mão-de-obra por equipamentos eletrônicos sofisticados, objetivando ampliar os lucros.
Globalização e Exclusão Social
"A fome deixa de ser um fato isolado ou ocasional e passa a ser um dado generalizado e permanente. Ela atinge 800 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes, sem exceção. Quando os progressos da medicina e da informação deviam autorizar uma redução substancial dos problemas de saúde, sabemos que 14 milhões de pessoas morrem todos os dias, antes do quinto ano de vida.
Dois bilhões de pessoas sobrevivem sem água potável. Nunca na história houve um tão grande número de deslocados e refugiados. O fenômeno dos sem teto, curiosidade na primeira metade do século XX, hoje é um fato banal, presente em todas as grandes cidades do mundo. O desemprego é algo tornado comum. Ao mesmo tempo, ficou mais difícil do que antes atribuir educação de qualidade e, mesmo, acabar com o analfabetismo. A pobreza também aumenta.No fim do século XX havia mais 600 milhões de pobres do que em 1960; e 1,4 bilhão de pessoas ganham menos de um dólar por dia. Tais números podem ser, na verdade, ampliados porque,ainda aqui, os métodos quantitativos da estatística enganam: ser pobre não é apenas ganhar menos do que uma soma arbitrariamente fixada; ser pobre é participar de uma situação estrutural, com uma posição relativa inferior dentro da sociedade como um todo. E essa condição se amplia para um número cada vez maior de pessoas. O fato, porém, é que a pobreza tanto quanto o desemprego agora são considerados como algo ‘natural’, inerente a seu próprio processo. Junto ao desemprego e à pobreza absoluta, registre‑se o empobrecimento relativo de camadas cada vez maiores graças à deterioração do valor do trabalho."
Milton Santos. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. p. 59.
Referências:
APOLINÁRIO, Maria Raquel. Projeto Araribá História, 9o. ano. Ed. Moderna. p. 239 e 240.
COTRIM, Gilberto. História Global Brasil e Geral, volume único. Ed. Saraiva. p. 531.
Vídeos:
Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá, documentário do cineasta brasileiro Sílvio Tendler, discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias (seja o terceiro mundo, seja comunidades carentes). O filme é conduzido por uma entrevista com o geógrafo e intelectual baiano Milton Santos (1926–2001), gravada quatro meses antes de sua morte.
Considerado um dos maiores pensadores brasileiros do século XX, Milton Santos não era contra a globalização e sim contra o modelo de globalização perversa vigente no mundo, que ele chamava de globalitarismo. Analisando as contradições e os paradoxos deste modelo econômico e cultural, Milton enxergou a possibilidade de construção de uma outra realidade, mais justa e mais humana.
Dicas de leitura:
Por Uma Outra Globalização
Autor: Santos, Milton
Editora: Record
Categoria: Ciências Humanas e Sociais / Política
Sinopse
Nesta obra, o geógrafo Milton Santos defende a idéia de que é preciso uma nova interpretação do mundo contemporâneo, uma análise multidisciplinar, que tenha condições de destacar a ideologia na produção da história, além de mostrar os limites do seu discurso frente à realidade vivida pela maioria dos países do mundo. A informação e o dinheiro acabaram por se tornar vilões, à medida em que a maior parte da população não tem acesso a ambos. São os pilares de uma situação em que o progresso técnico é aproveitado por um pequeno número de atores globais em seu benefício exclusivo. Resultado - aprofundamento da competitividade, a confusão dos espíritos e o empobrecimento crescente das massas, enquanto os governos não são capazes de regular a vida coletiva. Apesar disso, Milton Santos reconhece o começo de uma evolução positiva nas pequenas reações que ocorrem na Ásia, África e América Latina. Talvez pode ser este o caminho que conduzirá ao estabelecimento de uma outra globalização. A proposta deste livro é levar uma mensagem de esperança na construção de um novo universalismo, menos excludente.
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